sábado, 8 de março de 2008

Kloster Langwaden

Foto: www.grevenbroich.de
Nome: Kloster Langwaden
País: Alemanha
Cidade: Grevenbroich - Dusseldorf
Saber mais:
www.grevenbroich.de; www.klosterlangwaden.de

Numa Alemanha pouco conhecida para nós, Portugueses periféricos duma Europa distante e sem dominar a língua, o GPS havia feito o milagre de nos levar sem falhas até à porta do que julgávamos ser um comum hotel.

Previamente reservado pela Internet, o critério de escolha tinha sido unicamente o da disponibilidade – num raio de 50 km não havia onde dormir na região de Dusseldorf naquela e seguintes noites. Tal como nós, milhares de pessoas percorreram meio mundo para não faltar à chamada da maior feira mundial de negócios do nosso sector profissional.

À chegada, numa noite de Domingo, quase madrugada de Segunda-feira, dois coelhos brincavam sobre o extenso relvado. Cegos pelos faróis do automóvel, por momentos pararam, perdidos na violenta explosão de luz que lhes retirou a sabedoria. Antes, como senhores da noite, dominando o curso das suas vidas apesar do breu; agora, indefesos, expostos ao perigo, à mercê da vontade alheia, por causa da luz. A berma do caminho foi refúgio num último reflexo de instinto sobrevivente.

Estávamos, sem o saber, num imenso Convento Católico, onde uma ala está preparada para receber hóspedes. O edifício esmaga de tão belo, de simetria perfeita, integrado num imenso bosque bem cuidado e estimado. Logo à entrada, onde a simpatia do recepcionista não atenua as dificuldades decorrentes do mau Inglês, somos transportados para uma atmosfera mais propícia a estadias contemplativas ou retiros espirituais do que a fazer descansar o corpo massacrado pela viagem. Na parede defronte, uma discreta foto do Cardeal Joseph Alois Ratzingar, desde Abril de 2005 conhecido por Papa Bento XVI, dá as boas-vindas aos visitantes, encimada por uma curiosa cruz em pedra, grosseiramente trabalhada, com as pontas todas de tamanho igual.

Na parede do primeiro patamar da larga escada que nos leva ao piso dos quartos é impossível não nos determos numa representação de Cristo na cruz – com toda a certeza o Cristo mais amargurado, triste, derrotado, que alguma dia pude observar. A cabeça completamente pendente e assente sobre o ombro direito transforma a escultura num T gigante e não numa cruz tradicional, como estamos treinados a identificar. Os longos cabelos desalinhados sobre a face não deixam percepcionar a dor, que se sente estar presente em todo o conjunto.

Na solidão do quarto, aquela imponente dignidade espartana feita só do mais essencial, obriga à introspecção, às humildes interrogações que no maior conforto não se colocam. O sono de tão rápido não deve ter cumprido por inteiro todos os seus ciclos – foi inevitável não acordar às seis da manhã ao som do pequeno sino que alerta para a alvorada de um dia mais. A ressaca domina.

O pequeno-almoço, não destoa de todo o conjunto: modesto e simples, é tomado num refeitório sobre a influência magnífica de uma tela gigantesca, representando uma clássica natureza-morta. O pão, amassado e cozido dentro das paredes do Convento é marcado a ferros num baixo-relevo representando as armas do Kloster Langwaden.

Saí para a manhã fria apesar de soalheira. Inspirei aquele bom ar e, de dentro veio uma satisfação tão intensa que percebi ter encontrado mais um lugar para juntar a tantos outros na minha memória.

5 comentários:

Unknown disse...

Votos de muito prazer na escrita deste blogue.

Anónimo disse...

Obrigado..é exactamente isso que procuro - prazer na escrita.
Rui Pedro Cunha

Dani disse...

Vai ser um blog de obrigatória passagem...Espero por novidades e recomendações de possiveis viagens...

Anónimo disse...

Obrigado Dani. Vai aparecendo e recomenda a quem merecer.
Um abraço
Rui Pedro Cunha

Dani disse...

Assim farei...É passagem obrigatória agora...Abraço